29.8.12

O Casamento


Há algum tempo, Laís quis ver as fotos do meu casamento e descobriu, desolada, que eu e o pai não somos casados. Nem no papel, nem na igreja. Nadica. Sem documento, sem foto da festa.

Expliquei pra ela que na época em que resolvemos viver juntos tivemos que fazer uma escolha: ou festa, ou móveis para casa. Escolhemos os móveis e assim foi.

A verdade inteira é quase isso: de fato não fazíamos questão da igreja, mas queríamos muito a festa. Um “almocinho só para a família e os mais chegados” apenas pra dar satisfação pra quem quer que a quisesse, não fazia parte dos nossos planos e, ambos concordamos que pra fazer meia boca era melhor não fazer. Era uma ocasião deveras importante, não dava pra repetir depois, né?

Dez anos se passaram,  Laís chegou e aí voltei a pensar na festa. Achei que seria um sarro se ela fosse nossa madrinha. A essa altura, nós já queríamos uma festa um pouco diferente do plano inicial lá trás. E como já tínhamos esperado até então...

A menina começou a colocar uma pressão: resolveu que não queria ser madrinha não, que isso é coisa pra adulto, ela seria dama de honra. Começou a cobrar a data. Não perdia uma oportunidade de parar na frente de uma vitrine de loja de vestido de noiva para escolher o meu e o dela, lógico.

E como apesar de tudo isso não viu nenhuma movimentação no sentido de realizar seu sonho de ser daminha, bolou um plano maquiavélico e colocou mãos a obra (porque quem sabe faz a hora, não espera acontecer).

Domingão de sol e preguiça com visita amada e ilustre em casa: o dindo. É muito amor esses dois juntos, mas vamos focar na historinha. 

Caprichei no cardápio. Coisa simples, mas feita com amor, acabou dando aquele sono depois de comer. Eu pra piorar fiquei com uma dor de cabeça daquelas. Pedi licença ao dindo que já é de casa e fui me deitar um pouquinho. O pai ficou vendo jogo e o dindo meio vendo/meio cochilando do lado.

Enquanto isso ela colocou o plano em prática: foi ao banheiro e pegou escovas, pentes, mousse e silicone e abriu um “salão” na sala. Obrigou o pai a ser “penteado”. Depois ela se penteou e se maquiou e partiu para a fase II do plano: convites e “lembrancinhas”. 

Criança muito quietinha é sinal de apronto, mas o pai vendo futebol e a mãe descansando? Rá! Nunca foi tão fácil...  Ela pegou convites e os saquinhos de lembrancinhas que sobraram da festa dela do ano passado, colocou giz de cera e bola de encher (vazia, claro) e, fase II concluída, hora de preparar a noiva.

- Mãe, vc já descansou bastante, levanta pra vir pro seu casamento!
- Que casamento? Eu tô com dor de cabeça ainda filha, perae...
- Mas mãe! Tá tudo pronto!
- Tudo o que Laís? Pelamordeus!
- “Tudo,tudo mãe, só falta você ué!” Disse ela começando a ficar nervosa.
- Ai Laís, não dá pra casar outro dia não filha? Semana que vem eu caso...

Aí veio o golpe de misericórdia: "- Quer dizer que eu fiz tudo isso pra NA-DA? Penteie meu pai, me penteei, me maquiei, fiz convite, lembrancinha... E agora..." Disse ela já num fio de voz,  fazendo aquele gesto com as duas mãozinhas  com as palmas pra cima como quem diz “e agora?” E começa a chorar.
- Calma. Calma filha, não chora! Vc fez lembrancinha?
-" Fiz!" Exclamou com os olhos marejados e a voz esganiçada.
“Pior das mortais”, pensei eu com meus botões. - Tá, eu caso então! Mas eu posso casar assim de bermuda?
- Assim não né mãe? Tem de por um vestido! Peraê que vou escolher um pra vc! Pode ser esse preto?
- Preto não filha, onde já se viu casar de preto! Pode ser esse verde de florzinha?
- Não. Não gosto desse. Tinha de ser branco né mãe?
- Branco eu não tenho. Pode ser esse vermelho e branco?
-“Pode! E eu posso usar esse vestido mãe?” Disse ela pegando um lindo vestido de festa que usou apenas uma ou duas vezes só.
- Claro, filha, esse vestido é perfeito para uma daminha! Veste e vem me maquiar enquanto eu me penteio!
- “Eu posso te maquiar????”  Alegria master brilhando nos olhinhos da criança. Acertei uma, finally. 
- Claro ué, você não é a dona do Salão?

Fiz algumas tranças e prendi tudo num coque baixo. Ela me emprestou seu laço branco para combinar, me maquiou (muito direitinho diga-se de passagem) e improvisou um buque: 3 tulipas de madeira que a avó usa de enfeite em um jarro e que “combinaram perfeitamente” com meu vestido.

- “Toma, leva essa calça e esse sapato pro seu pai e manda ele vestir.” Eu disse entregando a indumentária do noivo pra ela. 
- E a camisa mãe?
- Ah, deixa ele casar com a do Flamengo mesmo que ele vai ficar feliz.
- “Tá.” Disse ela correndo escada abaixo e amando aquilo tudo. “– Paaaai! Não soooobe, vc não pode ver a noiva! Eu vou levar sua roupa!

Ela subiu de novo esbaforida, e perguntei quem seria o padre. “- Meu dindo!” Disse ela triunfante com aquela cara de “eu pensei em tudo”.  – Só falta as alianças mamãe! 

A avó e o tio entraram na onda. A avó colocou um chapéu de abas largas e ficou no “altar” com o noivo enquanto o tio, na ausência de meu pai, me conduziu pela escada até o altar que era o meio da sala. 

O dindo ainda caprichou na performance, usando uma “varinha de condão” da Laís em forma de estrelinha com efeito sonoro e tudo, pra hora do “pode beijar a noiva", e as alianças foi a própria  Laís que colocou nos nossos dedos.

A festa foi regada a brindes de coca-cola  em taças de champanhe e pavê de chocolate (que sobrou do almoço) e o pai confessando que ficou de verdade emocionado com aquela coisa toda! Rsrs E eu confesso que não poderia querer casamento mais mágico do que esse. Tudo exatamente como eu NUNCA planejei!

E foi assim que, numa tarde preguiçosa de domingo, Laís realizou seu sonho de ser daminha e ver os pais finalmente casados.  E que os anjos digam, amém!




22.8.12

Laís e Clarinha


Quando Laís tinha poucos meses de vida, ganhou de presente da tia, uma boneca pretinha, que eu muito gaiatamente batizei de Ana Clara. Clarinha, para os íntimos.
Logo que teve idade e tamanho suficiente para brincar com ela, “Calinha” virou desde sempre a boneca preferida.

Eu disse boneca? Desculpem, falha minha.  Membro da família. Era minha neta, até bem pouco tempo atrás. Espertamente quando ela viu que um irmãozinho não ia rolar, perguntou se eu me incomodava de ser mãe da Clarinha também, assim ela teria uma irmãzinha. (chantagem emocional? Claro que não gente, ela não tem malícia pra isso!)


A Clarinha tem a cabeça e membros de plástico, e o corpinho é fofinho, assim meio almofadinha.O problema é que o tecido é aquele TNT fajuto, sacam? Depois de um bom par de anos indo pra escola, andando de velocípede, viajando e outras coisas, o corpinho de Clarinha começou a dar sinais de cansaço.

Caí na asneira de tratar Clarinha como uma boneca e com  graça de um paquiderme que por vezes me é peculiar,  disse pra criança que era hora de trocar aquela Clarinha por uma nova. Crise convulsiva de choro. Com direito a beicinho tremendo. Me senti a mais infeliz das criaturas vendo aquele desespero todo causado pela minha total falta de tato.

A avó acudiu. Costurou a Clarinha da forma que pode, ficou meio tortinha, mas eu completei com um belo banho e uma roupa nova e pronto! Todos felizes de novo.

E Clarinha voltou a andar de velocípede. E Bicicleta. E a ir pro cinema e pro shopping. A situação ficou crítica: Clarinha estava perdendo as duas pernas e  um braço. Precisava de internação urgente. Tivemos uma conversa séria e depois de nova crise de choro (um pouco mais conformado dessa vez) procuramos uma boa clínica para interná-la.

Chegando lá, a recepcionista, enfermeira apresenta o dignóstico: tem cura, mas o tratamento dura 30 dias.
“- 30 dias é muito mamãe?” Ela perguntou aflita com lágrimas nos olhos.
- É sim filha, é bastante. Mas o médico vai cuidar muito bem dela pra vcs poderem brincar muitos e muitos anos tá?
- Um-hum...  Mas eu posso vir visitar ela mamãe?
- Ih filha não, mas olha, vamos comprar uma roupinha nova bem bacana pra ela pra quando viermos buscá-la, tá legal?
“- Um-hum.” Pode ser uma de calor e uma de frio?  Ela respondeu tentando se conformar.

Clarinha ainda vai ficar internada 10 dias. Com o aniversário chegando, e a grana curta, disse a ela:
- Filha olha, esse ano não vai dar pra comprar vários presentes tá? Escolhe só um, mas uma coisa que vc queira bastante.
- Hum... Então vou querer um playmobil férias!
- Ah filhote, playmobil é um monte de peça pequenininha, vc perde tudo logo... Não prefere uma boneca? Uma que vc queira muito?
-Ah já sei então! Eu quero a Clarinha de volta! Ela fica boa antes do meu aniversário mamãe?

Dessa vez fui eu que chorei de beicinho tremendo. Dá pra amar mais?

21.8.12

Rapidinhas: da série "perguntas difíceis"

- Mãe, de que é feita a nuvem?
- De ar, e água.
- Ar?
- É
- O que a gente respira?
- Esse mesmo!
- Mas o ar não é invisível?
- É
- Mas então porque a nuvem é branca?

Sim, porque senhoras e senhores? Vcs sabem? Também não? Então vamos a explicação do oráculo (=google):
"Elas contêm uma grande quantidade de gotículas e pequenos cristais de gelo, que agem como pequenos prismas, decompondo a luz solar nas sete cores do arco-íris: vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, anil e violeta. "Assim, para quem olha a nuvem, o resultado final é a soma de todas essas cores: o branco", afirma o meteorologista Mário Festa, do Instituto Astronômico e Geofísico da Universidade de São Paulo (USP). Já o formato da nuvem varia conforme a altitude em que ela se encontra. As mais altas, lisas e horizontais, são chamadas de estratos. As cirros, também em altitudes elevadas, são curtas e têm forma fibrosa. As cúmulos parecem flocos de algodão e encontram-se perto do solo. Já as cúmulos-nimbos, também próximas da superfície terrestre, são largas, fofas, escuras e geralmente produzem tempestades."
Fonte: http://mundoestranho.abril.com.br

Eu fico me perguntando como os pais faziam antes do Google?


Oi, eu sou uma cúmulo, vc sabia?