22.8.12

Laís e Clarinha


Quando Laís tinha poucos meses de vida, ganhou de presente da tia, uma boneca pretinha, que eu muito gaiatamente batizei de Ana Clara. Clarinha, para os íntimos.
Logo que teve idade e tamanho suficiente para brincar com ela, “Calinha” virou desde sempre a boneca preferida.

Eu disse boneca? Desculpem, falha minha.  Membro da família. Era minha neta, até bem pouco tempo atrás. Espertamente quando ela viu que um irmãozinho não ia rolar, perguntou se eu me incomodava de ser mãe da Clarinha também, assim ela teria uma irmãzinha. (chantagem emocional? Claro que não gente, ela não tem malícia pra isso!)


A Clarinha tem a cabeça e membros de plástico, e o corpinho é fofinho, assim meio almofadinha.O problema é que o tecido é aquele TNT fajuto, sacam? Depois de um bom par de anos indo pra escola, andando de velocípede, viajando e outras coisas, o corpinho de Clarinha começou a dar sinais de cansaço.

Caí na asneira de tratar Clarinha como uma boneca e com  graça de um paquiderme que por vezes me é peculiar,  disse pra criança que era hora de trocar aquela Clarinha por uma nova. Crise convulsiva de choro. Com direito a beicinho tremendo. Me senti a mais infeliz das criaturas vendo aquele desespero todo causado pela minha total falta de tato.

A avó acudiu. Costurou a Clarinha da forma que pode, ficou meio tortinha, mas eu completei com um belo banho e uma roupa nova e pronto! Todos felizes de novo.

E Clarinha voltou a andar de velocípede. E Bicicleta. E a ir pro cinema e pro shopping. A situação ficou crítica: Clarinha estava perdendo as duas pernas e  um braço. Precisava de internação urgente. Tivemos uma conversa séria e depois de nova crise de choro (um pouco mais conformado dessa vez) procuramos uma boa clínica para interná-la.

Chegando lá, a recepcionista, enfermeira apresenta o dignóstico: tem cura, mas o tratamento dura 30 dias.
“- 30 dias é muito mamãe?” Ela perguntou aflita com lágrimas nos olhos.
- É sim filha, é bastante. Mas o médico vai cuidar muito bem dela pra vcs poderem brincar muitos e muitos anos tá?
- Um-hum...  Mas eu posso vir visitar ela mamãe?
- Ih filha não, mas olha, vamos comprar uma roupinha nova bem bacana pra ela pra quando viermos buscá-la, tá legal?
“- Um-hum.” Pode ser uma de calor e uma de frio?  Ela respondeu tentando se conformar.

Clarinha ainda vai ficar internada 10 dias. Com o aniversário chegando, e a grana curta, disse a ela:
- Filha olha, esse ano não vai dar pra comprar vários presentes tá? Escolhe só um, mas uma coisa que vc queira bastante.
- Hum... Então vou querer um playmobil férias!
- Ah filhote, playmobil é um monte de peça pequenininha, vc perde tudo logo... Não prefere uma boneca? Uma que vc queira muito?
-Ah já sei então! Eu quero a Clarinha de volta! Ela fica boa antes do meu aniversário mamãe?

Dessa vez fui eu que chorei de beicinho tremendo. Dá pra amar mais?

2 comentários:

Angela disse...

ai fiquei com tanto dó da Laís.. e da Clarinha também!

Gabriela Collaço disse...

Que historinha linda!!! Meu pequeno tbm prefere uma pequeno reparo a brinquedos novos as vezes :]