Laís usa aparelho móvel. Ele serve na verdade, para inibir o
hábito de chupar dedo. Ela faz isso desde o útero (juro, tenho uma ultra
provando. um dia eu escaneio e publico aqui). Agora que os dentes definitivos
estão crescendo, ele acaba servindo também meio que de “guia” pra os dentinhos
crescerem já no lugar certo.
É claro que ela já perdeu aparelho, já quebrou,amassou... De forma que
já estamos na terceira geração.
Ontem cheguei do trabalho e ela começa a me cercar:
-“ Mamãe” exclama ela me dando um grande abraço. Abracei de
volta, perguntei como foi o dia, ela me diz que foi bom e pergunta pelo meu. Digo
que foi bom também. Até aí tudo normal, nada diferente do usual.
- Mas foi estressante?
- Estresse faz parte do meu trabalho filha. Tô um pouco
preocupada com algumas coisas sim, tô
com um prazo apertado para começar a produzir a nova campanha ( gosto de
contar um pouco pra ela se sentir participando) mas não foi um dia “daqueles”
não. Respondi sorrindo.
Nesse ponto ela fez uma careta daquelas que a gente faz
quando pensa “mas que droga”. Deu um suspiro fundo e começou a falar bem
devagar e controladamente:
- Mãe, pensa em um castigo. Bem grande. De uma semana.
- “Castigo? Porque?” Perguntei já sabendo que tinha feito
merda. Fato.
- “Pensa mãe.” Insistiu ela.
- O que vc fez?
- Não. Primeiro pensa num castigo e me fala.
- “Não.” Eu respondi engrossando o tom de voz:- O castigo vai
depender do tamanho da besteira. Pode fazer o favor de me contar logo? Porque eu
tô começando a ficar nervosa já.
- Mãe, eu te desobedeci. Eu comprei chiclete COM AÇÚCAR, e
coloquei na boca e coloquei o aparelho e eu achei que ia conseguir tirar mas o
aparelho tá todo melecado e grudento ainda porque eu não consegui tirar tudo.
Desculpa, eu sei que eu fiz errado. Pode me colocar de castigo. Qual vai ser
meu castigo?
- Mas você colocou o aparelho de propósito?
- Foi. Desculpa.
- Mas porque você fez isso? Você tá cansada de saber que não
pode comer com o aparelho.
- Sei sim mãe. Desculpa. Você me desculpa?
- Posso pelo menos saber o que passou na sua cabeça pra você
ter essa ideia de jerico?
- Bom, eu achei que se eu deixasse o chiclete grudado no meu
aparelho no céu da boca, o gosto ia demorar mais pra sair, e eu ia poder comer
chiclete na aula sem ninguém ver.
Parei. Pensei. Conclui que a danada aprendeu beeem mais rápido que eu a se livrar da bronca assumindo a culpa. Achei graça, mas não podia transparecer. Não consegui chegar a um castigo que ela levasse a sério. Eu não levo muito a sério esse lance de castigo, ela sabe disso. Mas essa proeza mereceu e ela sabia disso. Estava esperando.
- Ok. Seu castigo vai durar um mês então. Um mês sem comer
uma mísera bala, nem chiclete, nem guloseima nenhuma!
- Nem um pé de moleque?
- NÃO!
- Nem uma paçoquinha?
- Não Laís! CAS-TI-GO.
- "Mas nem um bom-bom? Chocolate pode né mãe?" Disse ela em tom de “assim também já é
demais”.
- Não. Se você se comportar, talvez. E trate de ficar muito
satisfeita por eu não te deixar de castigo sem comer besteira até fazer 15
anos!
E é dessa forma minha gente, encerrando a discussão com esse
tipo de frase, que uma mãe perde completamente sua moral na hora de dar um
castigo. Preciso me lembrar de parar com essa gracinha.
Oi, eu sou um aparelho disciplinador! |
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