16.10.08

Os especialistas que me perdoem, mas dormir na cama dos pais é fundamental!

Sim eu sei. Estou colocando um dedo na ferida. Vai ter gente pulando da cadeira e dizendo: “epa! Quequéisso! Manda interditar! Tira do Ar! Não pode não!”

Por outro lado sei também que vai ter gente que se sentia super mal por ter a fraqueza de deixar a criança dormir na sua cama, mas que não confessava nem pro travesseiro por que afinal de contas “os especialistas dizem que não pode de jeito nenhum” e agora vai saber que está acompanhado nesse dilema diário.

Aliás, acompanhados por muitos (faz aí uma enquete rápida pra ver no que dá) mas não por mim. Deixo minha filha dormir na minha cama com convicção de que além de não ser ruim faz maravilhas para a auto-estima da criança. Tenho pais amorosos que nunca me negaram colo conforto e segurança. Tenho muito a falar sobre isso, mas quero começar especificamente falando do meu caso.

Porque me lembro quando ainda era bem pequenininha, que meu pai chegava tarde do trabalho e eu me sentia mais segura quando ele e minha mãe estavam. Então pedia a minha mãe pra dormir na cama dela até meu pai chegar. E quando ele chegava, me carregava no colo até minha cama. Eu sempre meio que acordava nessa hora e não me incomodava de voltar pra minha cama, porque afinal de contas meu pai estava em casa e nada de mal poderia me acontecer.

Nós morávamos numa casa grande no meio do mato (gente, é sério: era na cidade, mas era quase roça. Não tinha asfalto nem luz na rua, só pra ter uma idéia) quando ventava parecia filme de terror, com o vento uivando e sacudindo as vidraças. Até hoje, depois de burra velha, não consigo dormir se tiver barulho de vento sacudindo janela. Era aterrorizante. Eu tinha muitos pesadelos e mesmo quando eu já era grande demais pra ficar “no meinho”, nessas ocasiões entrava pé ante pé no quarto dos meus pais acordava minha mãe e pedia: “posso dormir aqui?” Ela só balançava a cabeça que sim e eu colocava meu colchão ao lado da sua cama. Ela me dava a mão e esse contato tinha o poder de afastar todo e qualquer pesadelo, nenhum lorax que tomei na vida reproduziu esse efeito.

Dos meus 34* anos de vida passados no Rio (essa cidade tão violenta e perigosa, etc...) até hoje só tive um cordão arrancado na rua e só fui efetivamente assaltada (com direito a arma na cabeça e tudo mais) dentro de casa. Essa mesma casa no meio do mato, no meio do nada, que ficava no meio do breu. O quarto dos meus pais era bem grande e tinha também um sofá, onde também passei várias noites. Sempre que os cachorros latiam muito e nervosamente (sinal de gente estranha no pedaço) eu corria pra lá, e dormia sossegada porque afinal meu pai e minha mãe estavam ali.

Um dia a gente e cresce e se dá conta de que papai não é super-homem e nem mamãe a mulher maravilha. Que se entrasse alguém armado, ou mal intencionado, ou ambos, não faria nenhuma diferença o fato deles estarem lá ou não. Mas agora que a gente já cresceu, isso é o que menos importa. Porque mesmo sabendo que essa sensação de segurança é ilusória, nossa consciência não nos impede de nos sentirmos um pouquinho mais protegidos quando eles estão lá. É ilusório a gente sabe, mas é reconfortante e pronto.

Até hoje, fico mais tranquila quando ligo pra meu pai aflita, e ele me diz: “tenha calma, vai tudo ficar bem.” Quando sei que minha mãe está rezando por mim e meu pai tem certeza de que tudo ficará bem, eu também tenho. E no que depender de mim, a Laís também sempre terá.

Eu fico imaginando que esses tais especialistas pra início de conversa não são mães (e se são, não amamentaram). Porque se você é mãe, sabe o que é uma criança acordar a noite chorando e não servir mais ninguém, só você. Se você amamentou sabe como é maluquice ter de levantar a noite toda e ir pra outro quarto, sentar e dar o peito, colocar pra arrotar, pra dormir voltar pra cama e começar tudo de novo 45 min depois. E se um dia você não teve um estalo (quando seu bebê já estava mais “durinho”) que podia ficar deitada mais um pouco apenas mantendo ele ali dormindo ao seu lado entre uma mamada e outra e que (urra!!) não precisava sentar pra dar o peito, lamento dizer que você perdeu uma grande descoberta.

E depois que saem do peito ainda tem a mamadeira, e tem os medos. Eu acho que os especialistas esqueceram que foram crianças e que sentiam medo. Criança tem uma fase que acredita de verdade em dragão verde, vampiro, lobisomem e monstro da palha, mas que perto dos pais esses bichos não atacam, só quando estão sozinhos em seus quartos. Meu pai sempre disse que medo é atávico. É realmente interessante notar que de repente algo que sempre esteve ali de uma hora pra outra passa a assustar. A Laís quando recém nascida dormia tranquilamente com um barulho infernal de obra, mas de uns tempos pra cá, passou a ter medo de barulhos altos como liquidificador sirene e avião.

É claro que devemos guardar as devidas proporções. Não estou dizendo aqui que acho normal e bom a criança dormir todo santo dia na cama do casal, e só dormir nessa condição. É nossa função dar o limite. É preciso que a criança entenda que tem o espaço dela, que os pais precisam de um espaço deles etc... Mas um chameguinho de vez em quando não só é normal como eu tenho plena certeza: é saudável.

Ah! A propósito: meu pai é psicanalista. E minha madrasta que é psicóloga não vê nenhum problema em deixar meu irmão de 6 anos dormir na cama deles...

* Não roubei nas contas não. Estou falando dos anos que vivi no Rio então os dois de POA não contam ;o)

Um comentário:

Tatibe disse...

ai, Karen, como é bom ler seus posts...me sinto menos E.T.rs Na minha opinião, existem algumas regras que devem ser seguidas sim, mas que de vez em quando quebrá-las, não é nenhum bicho-papão... O que não pode é fazer a exceção virar regra... Por ex., dormir na cama dos pais todos os dias é ruim pq tira a privacidade do casal, cria uma dependência, a criança deixa de perceber que existe o seu espaço,o seu canto, dentre outros motivos, mas de vez em quando é super bom pra cabecinha deles... E ignorar um medo tb não acho q faça bem... Quando eu era pequena pedia pra minha mãe me visitar (toda noite)e ela ia (as vezes tentava me enrolar, mas eu era capaz de dormir às 5h esperando por ela, e chamando). Mas DE VEZ EM QUANDO, qdo o medo era mais forte q eu, eu ia mesmo pra cama deles, e era acolhida (infelizmente nao tive a sorte de cair no sono rápido, nem de ter sono pesado como meu irmão). rs bjs